terça-feira, julho 17, 2007

A NOTÍCIA



Foi um reboliço danado.
Um verdadeiro estardalhaço!
As estações de TV e rádio, as redações dos jornais, as distribuidoras de revistas e periódicos tiveram que parar
e mudar toda a programação de seus negócios.
Aconteceu um congestionamento sem precedentes na Internet - todos queriam acessar a notícia em primeira mão ao mesmo tempo.
Foi um verdadeiro caos.
Acho que deu a louca no mundo.
A CNN parou de falar de guerras, de genocídios e de bolsas de valores que subiam e despencavam a todo segundo.
Os jornais diários nem quiseram saber de assaltos, compra, venda e tráfico de drogas; nem deram bola para crimes passionais, atropelos e mortes.
Balas perdidas já eram coisas corriqueiras, não valiam notícia.
Corrupção, bandalheira, informação privilegiada e maracutaias eram assuntos banais: não cabiam na manchete.
O assunto era quente e de maior valia.

Nem mesmo uma mulher no Texas que deu luz a nove filhos de uma vez era assunto relevante.
Em laboratório, copiaram uma ovelha da outra, depois duas vacas de uma e tentavam fazer seis cobras de uma minhoca,
isto nem foi fato relevante pra desviar a atenção.
Presidentes de grandes potências mentiram e logo quiseram impedí-los de continuarem seus mandatos, qual o quê?~
Não era mais novidade e a maioria deles continuou a governar seus desgovernos, portanto não tinha mais sentido serem manchetes. Uma mulher ficou nuinha em público e um homem virou mulher - qual era a novidade???
A inflação voltou, o dólar subiu, no Oriente Médio ninguém se entendia mais,
a Iugoslávia estava banhada em sangue - tudo comum e repetido.
O fato foi verdadeiramente novo e isso todos notaram, por isso este choque no mundo.
Surpresa!!! Não é uma coisa banal, é vital.
De agora em diante nada será como antes, já dizia o batido refrão.
Deu em todas as manchetes da mídia mundial em edição matinal:

"HOJE NÃO TEM POESIA".

RETRATO



Pelas ruas, ensimesmado:é amargo.
Retrato.
Três por quatro, a identidade.
Travesseiro, sarjeta.
Corpos sem cabeça.
E eu disparando “clicks”.
Retrato.
Ressaca.
Na noite todos os riscos.
Todos os sonhos.
Desejos.

Vinhos, champagnes .... final de ano.
E eu disparando clicks.
Retrato.
Ressaca.
Cochilou, outra esquina.
Imagino o vômito jorrando no esgoto.
Crianças puxando na chuva,
Barquinhos vindos com Noel.
E eu dispando clicks.

Agora em close.
Ângulo fechado.
Mascarados, resinas, bílis.
Escravo.
Click.
Retrato.
Assim!
Click.
Triste!
Click.
Outra tristeza!
Click.
Sentado agora!
Click.
Revirando os olhosClick.
Retrato.
Neucivaldo Moreira