terça-feira, outubro 06, 2009

NÃO: JÁ NÃO FALO DE TI

Não: já não falo de ti, já não sei de saudades.
Feche-se o coração como um livro, cheio de imagens,
de palavras adormecidas, em altas prateleiras,
até que o pó desfaça o pobre desespero sem força,
que um dia, pode ser, parece tão terrível.



A aranha dorme em sua teia, lá fora, entre a roseira e o muro.
Resplandecem os azulejos- e tudo quanto posso ver.
O resto é imaginado, e não coincide, e é temerário
cismar. Talvez se as pálpebras pudessem
inventar outros sonhos, não de vida...


Ah! rompem-se na noite ardentes violas,
pelo ar e pelo frio subitamente roçadas.
Por onde pascerão, nestes céus invioláveis,
nossas perguntas com suas crinas de séculos arrastando-se...
Não só de amor a noite transborda mas de terríveis
crueldades, loucuras, de homicídios mais verdadeiros.


Os homens de sangue estão nas esquinas resfolegando,
e os homens da lei sonolentos movem letras
sobre imensos papéis que eles mesmos não entendem...
Ah! que rosto amaríamos ver inclinar-se na aérea varanda?
Nem os santos podem mais nada.
Talvez os anjos abstratos
da álgebra e da geometria.




Cecília Meireles


* Lindo poema...sem palavras.

PARTÍCULAS DO MEU EU...


No embasado espaço,
Perco-me na vastidão das incertezas...
Olho -me e sinto-me desfalecer.
Quantas perguntas roubam minha paz...
O medo consome e fragiliza.
E de repente...
Vejo partículas do meu ser
Vagando... perdidas num universo que não sei descrever.

Socorro Carvalho