quinta-feira, janeiro 05, 2012

A IMPONTUALIDADE DO AMOR



Você está sozinho. Você e a torcida do Flamengo. Em frente a tevê, devora dois pacotes de Doritos enquanto espera o telefone tocar.

Bem que podia ser hoje, bem que podia ser agora, um amor novinho em folha.

Triiiiiiiiiiiimmm!

É sua mãe...

Quem mais poderia ser?

Amor nenhum faz chamadas por telepatia. Amor não atende com hora marcada.

Ele pode chegar antes do esperado e encontrar você numa fase, sem disposição para relacionamentos sérios. Ele passa batido e você nem aí. Ou pode chegar tarde demais e encontrar você desiludido da vida, desconfiado, cheio de olheiras. O amor dá meia-volta, volver.
Por que o amor nunca chega na hora certa? 

Agora, por exemplo... ... que você está de banho tomado e camisa jeans.

Agora que você está empregado, lavou o carro e está com grana para um cinema.

Agora que você pintou o apartamento, ganhou um porta-retrato e começou a gostar de jazz. Agora que você está com o coração às moscas e morrendo de frio.

O amor aparece quando menos se espera e de onde menos se imagina.

Você passa uma festa inteira hipnotizado por alguém que nem lhe enxerga, e mal repara em outro alguém que só tem olhos pra você. Ou então fica arrasado porque não foi pra praia no final de semana. Toda a sua turma está lá, azarando-se uns aos Outros, sentindo-se um ET perdido na cidade grande, você busca refúgio uma locadora de vídeo, sem prever que ali mesmo, na locadora, irá encontrar a pessoa que dará sentido a sua vida.

O amor é que nem tesourinha de unhas, nunca está onde a gente pensa.

O jeito é direcionar o radar para norte, sul, leste e oeste.

Seu amor pode estar no corredor de um supermercado, pode estar impaciente na fila de um banco, pode estar pechinchando numa livraria, pode estar cantarolando sozinho dentro de um carro.

Pode estar aqui mesmo, no computador, dando o maior mole.

O amor está em todos os lugares, você que não procura direito.

A primeira lição está dada: ... o amor é onipresente.

Agora a segunda: ...mas é imprevisível. Jamais espere ouvir "eu te amo" num jantar à luz de velas, no dia dos namorados. O amor odeia clichês.

Você vai ouvir "eu te amo" numa terça-feira, às quatro da tarde... depois de uma discussão e... as flores vão chegar no dia que você tirar carteira de motorista, depois de aprovado no teste de baliza. ...

Idealizar é sofrer !

Amar é surpreender !


(Martha Medeiros)


LC 140 – NINGUÉM PROTESTOU CONTRA A LEI QUE AMARROU O IBAMA

foto: Cgfis/Ibama
Na semana passada, uma notícia me deixou estarrecido: a sanção presidencial da Lei Complementar 140. Parece que essa lei passou debaixo do radar dos ambientalistas. Fui pego de supetão, já que o noticiário só falava da Belo Monte e das alterações no Código Florestal, a maioria delas letra morta, referente a regras amplamente descumpridas. Enquanto isso, a LC 140, em especial seu Art. 17, desmonta uma estrutura que está funcionando. Através dela, o Ibama perde o poder de autuar crimes ambientais quando o licenciamento é de responsabilidade de estados e municípios.


A nova lei diz que, a partir de agora, o Ibama só autua aquilo que licencia. Parece correto e lógico, mas boa parte dos ilícitos ambientais fiscalizados pelo Ibama estão em áreas privadas e indústrias de pequeno e médio porte, onde não atua como licenciador. Tem dado certo. É fácil notar que o Ibama é respeitado e temido por aqueles que possam cometer infrações ambientais em todo o país.




Argumenta-se que estados e municípios, por estarem mais perto, têm as melhores condições de fazer cumprir a lei. A descentralização também obrigaria os órgãos estaduais e municipais a melhorar suas estruturas e capacidade de operação. Espero que seja verdade. Descentralizar é uma boa ideia. No entanto, a péssima ideia, irresponsável eu diria, é descentralizar primeiro e fazer funcionar depois.


Para mostrar o que isso acarreta, falei com os chefes de fiscalização do Ibama no Pará e da Secretária Estadual de Meio Ambiente do Pará (SEMA/PA). Qual é a estrutura de fiscalização disponível a cada órgão? Vamos aos números. Segundo Paulo Maués, da Divisão de Controle e Fiscalização (DICOF/IBAMA/PA), no Pará o Ibama tem 120 fiscais distribuídos na superintendência do órgão, 2 gerências e 7 escritórios. Eles dispõem de 50 viaturas e dois helicópteros. Para não falar na possibilidade de ações com fiscais e viaturas de outros estados, procedimento bastante comum. Trabalham tanto sob demanda (denúncias) quanto fazendo seus próprios levantamentos. Isso ocorre no âmbito do estado e através do apoio de serviços nacionais, sediados em Brasília, como o escritório de inteligência, para levantamento de fraudes, e de sensoriamento remoto. Funciona bem. Nas operações conjuntas com a Polícia Federal que vivenciei, só tenho elogios.


Fiz a mesma pergunta à Simone Linhares, chefe da diretoria de fiscalização da Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Pará (SEMA/PA). O estado, hoje, tem 25 fiscais e 4 escritórios. Não possui helicóptero. Pela vivência no estado, posso constatar que eles não têm recursos para atender ao volume de serviço já demandado, independente da LC 140. Ainda que estejam previstos concursos para aumentar a equipe, isso não se resolve no curto prazo, e via de regra, a escassez de verbas para itens do tipo combustível, diárias e outras necessidades operacionais costuma ser mais grave nos estados menos ricos da nação. Convido os que trabalharam em outros estados a apresentar dados, para ver se a situação é equivalente.


Em suma, no caso do Pará, estamos retirando as atribuições do Ibama, um órgão estruturado, e entregando para outro que, na melhor das hipóteses, tem menos de 20% da estrutura. Comemoramos hoje as reduções no desmatamento, bradamos por maior rigor na lei, mas acabamos de restringir os meios para manter e melhorar os resultados.

Por que a aprovação da Lei 140 foi tão pouco discutida? Passou batido. Foi uma surpresa para a maioria da sociedade, que estava ocupada com outros debates, em especial Belo Monte e Código Florestal, e não viu tanta relevância nesse. Apenas no âmbito do IBAMA o assunto foi tratado, com óbvia indignação dos servidores. Não ouvi falar de nenhuma passeata ou manifestação no congresso contra essa lei. Antes da sanção presidencial, vi duas publicações em ((o))eco (veja aqui e aqui). Mas não houve atenção suficiente da mídia e das organizações ambientais que pudesse frear a proposta.

Infelizmente me pego especulando sobre teorias conspiratórias. Para passar despercebido, parece óbvio que o governo escolheu bem o momento de sancionar essa lei. Justo no meio da tempestade do Código Florestal. Conseguiu. Ninguém protestou, como se fosse de menor importância.

Gustavo Geiser
Engenheiro agrônomo com mestrado em Agroecossistemas pela Universidade Federal de Santa Catarina, trabalha na Polícia Federal como Perito Criminal Federal na área de meio ambiente. 


Fonte: O Eco

Em 21 de Dezembro de 2011
A informação é um pouco antiga, mas de repente pode ter gente que esteja por fora. Por exemplo, eu só fiquei sabendo agora. 

BRASILEIRO TERMINA 2011 OTIMISTA SOBRE 2012


 Presidente do Ipea, Marcio Pochmann


Após o primeiro ano de mandato da presidenta Dilma Rousseff, os brasileiros de todas as faixas de renda e níveis de escolaridade estão mais otimistas com a situação socioeconômica do país, segundo pesquisa divulgada nesta quinta-feira (5) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Pelo levantamento, em dezembro, 64,4% das famílias acreditavam que, em 2012, o Brasil passará por melhores momentos do que em 2011. Em novembro, 60,1% das famílias mostravam grandes expectativas para o futuro próximo.

Este otimismo tem chances de se tornar uma espécie de profecia que se autorrealiza. De acordo com o presidente do Ipea, Marcio Pochmann, a confiança das pessoas atua como fator redutor ou indutor do crescimento econômico. “Se as expectativas estão otimistas em relação ao futuro, tende-se a gastar mais. Quando há forte pessimismo, gasta-se menos”, disse.

O otimismo dos brasileiros resulta de uma percepção de que houve melhoria nas condições de vida. Em dezembro, 78,2% das famílias diziam se sentir melhores financeiramente do que um ano antes. Na metade de 2011, eram 74,7%. Para 2012, 86,6% das famílias apostam que irão progredir, percentual maior do que em novembro (82,7%).

Os dados apurados pelo Ipea fazem parte de uma pesquisa mensal realizada com 3,8 mil domicílios, distribuídos por 200 cidades diferentes, na qual o instituto tenta apurar um Índice de Expectativas das Famílias (IEF).

Em dezembro, o IEF atingiu 67,2 pontos, 3,5 a mais do que em novembro, igualando-se ao mais alto já observado antes (janeiro de 2011). Em dezembro de 2010, o índice estava em 64,6 pontos.
Pela metodologia do Ipea, quando o índice fica entre 60 e 80 pontos, as famílias podem ser consideradas “otimistas”. Acima disso, é “grande otimismo”. Abaixo, na faixa de 40 a 60 pontos, há “moderação”. De 20 a 40 pontos, há “pessimismo” e, de 0 a 20 pontos, “muito pessimismo”.

No mais recente levantamento, observou-se que todas as regiões do país apresentaram em dezembro um IEF superior ao de novembro, com exceção do Nordeste, que registrou queda de 0,6 pontos.

Em relação à expectativa para 2012, a região mais otimista é a Centro-Oeste (82,2% das famílias acham que a situação socioeconômica será melhor este ano) e a menos, o Sul (59,6% apostam em melhoria em 2012).
Quando se faz uma análise por escolaridade, verifica-se que, quanto mais estudo, mais otimismo sobre 2012. Estão nas categorias “superior incompleto” e “superior ou pós graduação” as mais altas expectativas (73% e 68,9%, respectivamente). O menor índice é entre os “sem escolaridade” (57,7%). A pesquisa possui ainda outras quatro categorias (fundamental completo e incompleto e médio completo e incompleto).

Já num recorte por renda, o maior otimismo sobre 2012 está entre quem ganha de 4 a 5 salários mínimos (75,8%) e entre os mais ricos (acima de 10 mínimos, 71,7%). E o menor, entre os quem ganham até um mínimo (51,9%).


Fonte:  Carta Maior


A ARTE DE REINVENTAR A VIDA

Finda o ano, inicia-se o novo. No íntimo, o propósito de “daqui pra frente, tudo vai ser diferente”... Começar de novo. Será? Haveremos de escapar do vaticínio do verso de Fernando Pessoa, “fui o que não sou”?

Atribui-se a Gandhi esta lista dos Sete Pecados Sociais: 1) Prazeres sem escrúpulos; 2) Riqueza sem trabalho; 3) Comércio sem moral; 4) Conhecimento sem sabedoria; 5) Ciência sem humanismo; 6) Política sem idealismo; 7) Religião sem amor.

E agora, José? No mundo em que vivemos, quanta esbórnia, corrupção, nepotismo, ciência e tecnologia para fins bélicos, práticas religiosas fundamentalistas, arrogantes e extorsivas!

Os ícones atuais, que pautam o comportamento coletivo, quase nada têm do altruísmo dos mestres espirituais, dos revolucionários sociais, do humanismo de cientistas como os dois Albert, o Einstein e o Schweitzer. Hoje, predominam as celebridades do cinema e da TV, as cantoras exóticas, os desportistas biliardários, a sugerir que a felicidade resulta de fama, riqueza e beleza.

Impossibilitada de sair de si, de quebrar seu egocentrismo (por falta de paradigmas), uma parcela da juventude se afunda nas drogas, na busca virtual de um “esplendor” que a realidade não lhe oferece. São crianças e jovens deseducados para a solidariedade, a compaixão, o respeito aos mais pobres. Uma geração desprovida de utopia e sonhos libertários.

A australiana Bronnie Ware trabalhou com doentes terminais. A partir do que viu e ouviu, elencou os cinco principais arrependimentos de pessoas moribundas:

1) Gostaria de ter tido a coragem de viver uma vida verdadeira para mim, e não a que os outros esperavam de mim.

No entardecer da vida, podemos olhar para trás e verificar quantos sonhos não se transformaram em realidade! Porque não tivemos coragem de romper amarras, quebrar algemas, nos impor disciplina, abraçar o que nos faz feliz, e não o que melhora a nossa foto aos olhos alheios. Trocamos a felicidade da pessoa pelo prestígio da função. E muitos se dão conta de que, na vida, tomaram a estrada errada quando ela finda. Já não há mais tempo para abraçar alternativas.

2) Gostaria de não ter trabalhado tanto.

Eis o arrependimento de não ter dedicado mais tempo à família, aos filhos, aos amigos. Tempo para lazer, meditar, praticar esportes. A vida, tão breve, foi consumida no afã de ganhar dinheiro, e não de imprimir a ela melhor qualidade. E nesse mundo de equipamentos que nos deixam conectados dia e noite somos permanentemente sugados; fazemos reuniões pelo celular até quando dirigimos carro; lidamos com o computador como se ele fosse um ímã eletrônico do qual é impossível se afastar.

3) Gostaria de ter tido a oportunidade de expressar meus sentimentos.

Quantas vezes falamos mal da vida alheia e calamos elogios! Adiamos para amanhã, depois de amanhã... o momento de manifestar o nosso carinho àquela pessoa, reunir os amigos para celebrar a amizade, pedir perdão a quem ofendemos e reparar injustiças. Adoecemos macerados por ressentimentos, amarguras, desejo de vingança. E para ficar bem com os outros, deixamos de expressar o que realmente sentimos e pensamos. Aos poucos, o cupim do desencanto nos corrói por dentro.

4) Gostaria de ter tido mais contato com meus amigos.

Amizades são raras. No entanto, nem sempre sabemos cultivá-las. Preferimos a companhia de quem nos dá prestígio ou facilita o nosso alpinismo social. Desdenhamos os verdadeiros amigos, muitos de condição inferior à nossa. Em fase terminal, quando mais se precisa de afeto, a quem chamar? Quem nos visita no hospital, além dos que se ligam a nós por laços de sangue e, muitas vezes, o fazem por obrigação, não por afeição? Na cultura neoliberal, moribundos são descartáveis e a morte é fracasso. E não se busca a companhia de fracassados...

5) Gostaria de ter tido a coragem de me dar o direito de ser feliz.

Ser feliz é uma questão de escolha. Mas, vamos adiando nossas escolhas, como se fôssemos viver 300 ou 500 anos... Ou esperamos que alguém ou uma determinada ocupação ou promoção nos faça feliz. Como se a nossa felicidade estivesse sempre no futuro, e não aqui e agora, ao nosso alcance, desde que ousemos virar a página de nossa existência e abraçar algo muito simples: fazer o que gostamos e gostar do que fazemos.






Escrito por Frei Betto       

O MEDO DO AMOR



Medo de amar? Parece absurdo, com tantos outros medos que temos que enfrentar: medo da violência, medo da inadimplência, e a não menos temida solidão, que é o que nos faz buscar relacionamentos. Mas absurdo ou não, o medo de amar se instala entre as nossas vértebras e a gente sabe por quê.

O amor, tão nobre, tão denso, tão intenso, acaba. Rasga a gente por dentro, faz um corte profundo que vai do peito até a virilha, o amor se encerra bruscamente porque de repente uma terceira pessoa surgiu ou simplesmente porque não há mais interesse ou atração, sei lá, vá saber o que interrompe um sentimento, é mistério indecifrável. Mas o amor termina, mal-agradecido, termina, e termina só de um lado, nunca se encerra em dois corações ao mesmo tempo, desacelera um antes do outro, e vai um pouco de dor pra cada canto. Dói em quem tomou a iniciativa de romper, porque romper não é fácil, quebrar rotinas é sempre traumático. Além do amor existe a amizade que permanece e a presença com que se acostuma, romper um amor não é bobagem, é fato de grande responsabilidade, é uma ferida que se abre no corpo do outro, no afeto do outro, e em si próprio, ainda que com menos gravidade.

E ter o amor rejeitado, nem se fala, é fratura exposta, definhamos em público, encolhemos a alma, quase desejamos uma violência qualquer vinda da rua para esquecermos dessa violência vinda do tempo gasto e vivido, esse assalto em que nos roubaram tudo, o amor e o que vem com ele, confiança e estabilidade. Sem o amor, nada resta, a crença se desfaz, o romantismo perde o sentido, músicas idiotas nos fazem chorar dentro do carro.

Passa a dor do amor, vem a trégua, o coração limpo de novo, os olhos novamente secos, a boca vazia. Nada de bom está acontecendo, mas também nada de ruim. Um novo amor? Nem pensar. Medo, respondemos.

Que corajosos somos nós, que apesar de um medo tão justificado, amamos outra vez e todas as vezes que o amor nos chama, fingindo um pouco de resistência mas sabendo que para sempre é impossível recusá-lo.


Martha Medeiros