Alunos participam e encenam espetáculos propostos
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por Paulo Henrique Gadelha
/Abril 2011
foto Acervo do Pesquisador
Historicamente, a Matemática
foi concebida como uma ciência hermética e desinteressante. É comum escutarmos
relatos de experiências traumáticas quando o assunto em questão é o aprendizado
da disciplina. Seria possível, então, estudar os conteúdos matemáticos de uma
forma alternativa e atraente, tornando-os inteligíveis para os alunos e
eficiente para o professor?
Para essa indagação, o
professor João Batista do Nascimento, da Faculdade de Matemática do Instituto
de Ciências Exatas e Naturais (ICEN) da Universidade Federal do Pará (UFPA),
não titubeia em afirmar que sim. A resposta tem respaldo na metodologia criada
pelo próprio docente: o uso do teatro na aula de Matemática.
De acordo com o professor, a
didática consiste em trabalhar os conceitos dessa área de conhecimento de uma
maneira em que os alunos possam assimilar os conteúdos de forma lúdica e
prazerosa. “Com o auxílio do teatro, a criança vai perder o medo da Matemática
e passar a ter uma nova visão sobre a disciplina, pois a linguagem teatral tem
o poder de despertar os nossos sentimentos e emoções. Dessa forma, após
vivenciar no palco o que sempre foi considerado enfadonho, o aluno vai ter mais
sensibilidade para aplicar a Matemática no seu cotidiano”, afirma o professor
João Nascimento.
Com o primeiro resultado
prático de sua metodologia, o professor criou, em 2003, o Projeto de Extensão
“Atividades de Matemática para 3ª e 4ª séries”, o qual vigorou durante aquele ano
na UFPA e contou com a ajuda de quatro alunos que cursavam Licenciatura em
Matemática na Universidade, na época. A iniciativa recebeu, ainda, apoio do
Clube de Ciências do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação
Matemática e Científica (NPADC),
atualmente Instituto de Educação Matemática e Científica (IEMCI), e da
Faculdade de Matemática.
As atividades da iniciativa
aconteciam aos sábados no Clube de Ciências. Nesses encontros, crianças do
bairro Guamá entravam em contato com a Matemática não só por meio de peças de
teatro, mas também por utilização de jogos e outras brincadeiras. Essas
dinâmicas, segundo João Nascimento, são eficientes, pois contribuíam para uma
melhor fixação dos conteúdos.
Espetáculo conta origem das
figuras geométricas
Após essa experiência, o
professor pensou em criar um espetáculo teatral que pudesse consolidar o seu
trabalho. Então, João Nascimento elaborou a proposta da peça chamada “De ponto
em ponto formamos...”, na qual os personagens representam elementos da Geometria
Plana. O objetivo era discorrer a respeito dos conceitos básicos desse tópico
da Matemática, tudo de forma informal e bem humorada.
A peça era dividida em cinco
atos: OH! Sujeito quadrado! (ato 1); Triângulo Amoroso (ato 2); Círculo Vicioso
(ato 3); Tem que andar na linha (ato 4); Ponto Finalmente (ato 5). No momento
das encenações, os personagens (elementos matemáticos) se apresentavam,
explicavam suas funções e peculiaridades
contracenando uns com os outros. A proposta foi apresentada em instituições de
ensino superior no Pará, adequando o conteúdo à realidade local. No Campus
Universitário do Baixo Tocantins (CUBT) da UFPA, em Abaetetuba, isso aconteceu
durante a realização da disciplina Fundamentos Teóricos e Metodológicos para o
Ensino de Matemática, ministrada pelo professor Aubedir Seixas Costa, que
também desenvolveu o trabalho nos municípios de Breves, Tailândia e Concórdia
do Pará.
A metodologia foi batizada
de “Matemática e Teatro – da construção lúdica à formalização”. A forma
alternativa de ensinar Matemática ganhou notoriedade na mídia local, nacional e
até internacional, sendo divulgada em Portugal.
Modelo tradicional é
deficiente e ultrapassado
Apesar de defender com
afinco o seu método, o professor mostra-se cético quanto a possíveis mudanças
no modelo tradicional de se ensinar a ciência na rede básica, o qual ele
considera extremamente deficiente e ultrapassado. Um problema que não se
restringe ao Brasil, “o ensino de Matemática praticado aqui é de péssima
qualidade. Essa realidade ultrapassa as fronteiras do País e se estende por
toda a América Latina. É premente a necessidade de melhorar o ensino. Não
adianta mais o professor apenas se limitar a escrever uma definição no quadro e
o aluno copiar. E para atingir a qualificação esperada, o docente precisa
buscar novos métodos. Porém não vejo uma movimentação intensa nesse sentido”,
declara João Nascimento.
Para o professor, um dos
fatores que contribuem para essa realidade é a concepção de que o aluno da rede
básica não faz ciência. “Isso é falso. Eles produzem ciência tanto quanto quem
está na universidade. Agora, é claro que existe uma diferença na densidade da
produção. Isso é natural. Mas a produção do ensino básico não deixa de ser
científica por ser menos complexa”, considera.
O próximo desafio de João
Nascimento é produzir um livro que contemple todo o histórico da sua
metodologia, para auxiliar estudantes e professores. A obra deve conter as
dinâmicas envolvendo teatro e também
poesia, música e outras vivências. O projeto já tem título “Matemática para
Aprender e Ensinar”. Faltam alguns detalhes para a publicação, no entanto o
professor já usa o esboço do material para auxiliar alguns colegas que têm
interesse no trabalho.
“Não consigo visualizar
grandes mudanças. Porém continuo insistindo em relacionar o teatro com a
Matemática. Quero que as crianças não se limitem a aplicar o conhecimento em um
papel frio de prova, mas possam defender o seu saber com todos os recursos e
emoções disponíveis”, finaliza João Nascimento.
Fonte: Beira Rio