terça-feira, março 19, 2013

CHUVA FRENÉTICA DE ÊXTASE..


Nas ruas a enxurrada passa apressada,
A chuva forte lava o chão deixa a terra molhada.
Em cada canto escondido um segredo contido, uma vontade inacabada.
Em cada pingo uma ânsia “destampada”, pecadora.
Vontade muda de se soltar  inteira, no som de uma boca louca.
A chuva continua caindo,
Cá dentro do peito, pensamentos pervertidos.
Sabor de pecado se derrama   em cada sentido. 
Vontade de morrer em seus mistérios.
No indecifrável querer,...
Quero você,  suas mãos extravagantes despindo meus pudores.
Quero sua pele nua , sua língua quente deslizando em meus segredos...
Quero sua ousadia abusada, seu cheiro exalando desejos.
Quero colo, carinho, loucura...
Quero sua chuva frenética caindo em minha "bica"...
Enchendo-a do   mais louco e infindo  êxtase.



Socorro Carvalho

EU


Até agora eu não me conhecia,
julgava que era Eu e eu não era
Aquela que em meus versos descrevera
Tão clara como a fonte e como o dia.

Mas que eu não era Eu não o sabia
mesmo que o soubesse, o não dissera...
Olhos fitos em rútila quimera
Andava atrás de mim... e não me via!

Andava a procurar-me - pobre louca!-
E achei o meu olhar no teu olhar,
E a minha boca sobre a tua boca!

E esta ânsia de viver, que nada acalma,
E a chama da tua alma a esbrasear
As apagadas cinzas da minha alma!


Florbela Espanca

VERSOS ÍNTIMOS



Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!


Augusto dos Anjos