quinta-feira, abril 04, 2013

LIDERANÇAS MUNDURUKU E MPF PEDEM CANCELAMENTO DE “OPERAÇÃO TAPAJÓS”



Em coletiva realizada na manhã desta quinta-feira (04), na sede do Ministério Público Federal, em Belém, Valdeir Munduruku do Rio Tapajós, representante dos índios Munduruku, relatou como está sendo a ofensiva militar do Governo Brasileiro no território indígena e entregou ao procurador da república, Ubiratan Cazetta, a carta do povo Munduruku, pedindo o cancelamento da “Operação Tapajós”. Também estavam presentes na coletiva, Marquinho Mota, representante do FAOR- Fórum da Amazônia Oriental e Luiz Cláudio, do CIMI – Conselho Indigenista Missionário.

A “Operação Tapajós”, teve inicio no fim de março de 2013, quando contingentes de dezenas de homens da Força Nacional, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e militares, desembarcaram na sede do município de Itaituba, no Oeste do Pará, às margens do rio Tapajós, para garantir a segurança de técnicos que irão fazer um estudo de acessibilidade para a construção de 30 usinas hidrelétricas na Bacia do Tapajós. De acordo com convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), qualquer medida administrativa ou legislativa que possa afetar diretamente as populações indígenas e tradicionais, deve passar por consulta prévia com as populações, segundo Valdeir Munduruku, o povo indígena ainda não foi escutado, “não é que agente não queria dialogo, tanto que já foi marcada uma reunião entre as aldeias para decidir quem são as lideranças que vão representar o povo Munduruku, nesta consulta, nós não queremos mais violência, pedimos pela retirada das forças armadas do nosso território, eles nos proíbem de caçar e pescar,” declarou.   

 
Valdeir Munduruku
Os indígenas temem que a operação repita a tragédia ocorrida em 07 de novembro de 2012, quando Polícia Federal realizou uma operação (Operação Eldorado), na Aldeia Teles, fronteira entre Pará e Mato Grosso. O saldo foi um Munduruku assassinado por um delegado da polícia federal, vários indígenas gravemente feridos, além de crianças, idosos e mulheres ameaçados e humilhados pelos agentes federais. Na ocasião, o Ministério Público Federal abriu investigação que segue até o momento.


Ubiratan Cazetta - MPF
O procurador da república, Ubiratan Cazetta, recebeu a carta do povo Munduruku e vai anexar ao processo que o Ministério Público Federal - MPF, já iniciou, pedindo o cancelamento da “Operação Tapajós”. “Já entramos com recurso para cancelar a operação, estamos aguardando a posição do desembargador, em Brasília. Pedimos que não haja o licenciamento, sem que as comunidades indígenas sejam consultadas, e o MPF vai acompanhar o processo de perto, para não continuar as irregularidades”, concluiu o procurador.

A sociedade civil e os movimentos sociais estão se manifestando em apoio aos índios Munduruku, na ultima terça-feira (02), o FAOR – Fórum da Amazônia Oriental, divulgou uma nota de apoio e recolheu 92 assinaturas de diversas entidades, ONGs, movimentos sociais que também são contra a ofensiva militar contra o povo Munduruku e contra a construção do complexo hidrelétrico nos rios da Amazônia.

 
Marquinho Mota - FAOR
Marquinho Mota, que representou o FAOR, disse que “nos estamos aqui para declarar nosso apoio total e irrestrito ao povo Munduruku, um povo que está sendo ameaçado não só pela construção de uma barragem, mas de 30 barragens na Bacia do Tapajós, além de vários projetos de mineração. Outro motivo é que é inadmissível, dentro de um estado democrático, o governo usar o exercito e a polícia para intimidar populações indígenas que estão vivendo dentro do seu território, sem afetar ninguém ou oferecer ameaças para o estado brasileiro ou para a democracia. Também questionamos, a forma como estes projetos de barragens estão sendo feitos, eles rasgam a constituição, os acordos internacionais, e a convenção 169 da OIT, fazendo esse governo virar uma ditadura, como no caso de Belo Monte, no Xingu, o FAOR está ativamente denunciando as irregularidades na esperança que isso um dia acabe.”

O CIMI tem acompanhado, essa ofensiva militar no território Munduruku, Luiz Claudio Teixeira, que representa o CIMI conta como esta a situação nas aldeias, “ o clima esta tenso, os indios estão ao mesmo tempo com medo da reação da polícia e indignados com o que eles consideram uma traição do Governo, já que eles sempre dialogaram, uma comissão de indígenas esteve em Brasília no fim de março e conversaram com o secretário nacional de articulação social da Presidência da República, Paulo Maldos, que garantiu que nada seria feito sem a consulta indígena,” relata Luiz Cláudio.

                                                                                                                   Fonte: ASCOM FAOR

A ESSÊNCIA DA POESIA


 Não aprendi nos livros qualquer receita para a composição de um poema; e não deixarei impresso, por meu turno, nem sequer um conselho, modo ou estilo para que os novos poetas recebam de mim alguma gota de suposta sabedoria. Se narrei neste discurso alguns sucessos do passado, se revivi um nunca esquecido relato nesta ocasião e neste lugar tão diferentes do sucedido, é porque durante a minha vida encontrei sempre em alguma parte a asseveração necessária, a fórmula que me aguardava, não para se endurecer nas minhas palavras, mas para me explicar a mim próprio.

Encontrei, naquela longa jornada, as doses necessárias para a formação do poema. Ali me foram dadas as contribuições da terra e da alma. E penso que a poesia é uma acção passageira ou solene em que entram em doses medidas a solidão e solidariedade, o sentimento e a acção, a intimidade da própria pessoa, a intimidade do homem e a revelação secreta da Natureza. E penso com não menor fé que tudo se apoia - o homem e a sua sombra, o homem e a sua atitude, o homem e a sua poesia - numa comunidade cada vez mais extensa, num exercício que integrará para sempre em nós a realidade e os sonhos, pois assim os une e confunde.


E digo igualmente que não sei, depois de tantos anos, se aquelas lições que recebi ao cruzar um rio vertiginoso, ao dançar em torno do crânio de uma vaca, ao banhar os pés na água purificadora das mais elevadas regiões, digo que não sei se aquilo saía de mim mesmo para se comunicar depois a muitos outros seres ou era a mensagem que os outros homens me enviavam como exigência ou embrazamento. Não sei se aquilo o vivi ou escrevi, não sei se foram verdade ou poesia, transição ou eternidade, os versos que experimentei naquele momento, as experiências que cantei mais tarde.

De tudo aquilo, amigos, surge um ensinamento que o poeta deve aprender dos outros homens. Não há solidão inexpugnável. Todos os caminhos conduzem ao mesmo ponto: à comunicação do que somos. E é necessário atravessar a solidão e aspereza, a incomunicação e o silêncio para chegar ao recinto mágico em que podemos dançar com hesitação ou cantar com melancolia, mas nessa dança ou nessa canção acham-se consumados os mais antigos ritos da consciência; da consciência de serem homens e de acreditarem num destino comum.

Pablo Neruda, in "Nasci para Nascer" (Discurso na entrega do Prémio Nobel)

A REALIDADE DO AMOR



Que sempre existam almas para as quais o amor seja também o contacto de duas poesias, a convergência de dois devaneios. 
O amor, enquanto amor, nunca termina de se exprimir e exprime-se tanto melhor quanto mais poeticamente é sonhado. 
Os devaneios de duas almas solitárias preparam a magia de amar. 
Um realista da paixão verá aí apenas fórmulas evanescentes. Mas não é menos verdade que as grandes paixões se preparam em grandes devaneios. 
Mutilamos a realidade do amor quando a separamos de toda a sua irrealidade.


Gaston Bachelard, in ' A Poética do Devaneio'
Gaston Bachelard França
1884 // 1962 Filósofo

* Eis ai um dos grandes  motivos da morte de tantos sentimentos verdadeiros...

MENSAGEM DE AMOR



"Os livros na estante
Já não tem mais
Tanta importância
Do muito que eu li
Do pouco que eu sei
Nada me resta

A não ser
A vontade de te encontrar
E o motivo eu ja nem sei
Nem que seja só para estar
Ao teu lado só pra ler
No teu rosto
Uma mensagem de amor

A noite eu me deito
Então escuto
A mensagem no ar
Tambores runfando
Eu ja não tenho
Nada pra te dar

No céu estrelado
Eu me perco
Com os pés na terra
Vagando entre os astros
Nada me move
Nem me faz parar"...



Os Paralamas do Sucesso