sábado, agosto 31, 2013

PALADAR DE AMOR...


O sabor do seu amor,
Tem gosto   e sensações.
A embriaguez de sua boca.
O sussurro de sua voz.
 São enigmas da minha emoção.
Elucidação  do meu desejo.
O calor ardente de sua boca quente.
Delineando mistérios é sedução.
Na ousadia excitante de suas mãos.
O sabor do  seu suor, tempera minha fome e fantasia.
É sal que dá gosto à minha loucura.
É minha cura!
Viajo no enigmático do seu beijo mais ardente.
Medo cálido, inspiração e desejo...
Você surge!!
Agasalho-me em seu peito.
Alimento-me com o   paladar do seu  louco querer...
Gostoso amor...inesquecível  sabor.



Socorro Carvalho


VOCAÇÃO DE POETA

Recentemente, ao repousar
Sob essa folhagem
Ouvi bater, tiquetaque,
Suavemente, como em compasso.
Aborrecido, fiz uma careta,
Depois, abandonando-me,
Acabei, como um poeta,
Por imitar o mesmo tiquetaque.


Ouvindo assim, upa,
Saltar as sílabas,
Desatei de repente a rir,
Durante um bom quarto de hora.
Tu poeta? Tu poeta?
Estarás assim mal da cabeça?
«Sim, senhor, você é poeta»,
Diz Pic, o Pássaro, encolhendo os ombros.


Quem espero eu sob este arbusto?
Quem estarei a espreitar como um ladrão?
Uma palavra? Uma imagem?
Logo a minha ruína aparece.
Nada do que rasteja, ou que saltite
Escapa ao impulso dos meus versos,
«Sim, senhor, você é poeta»,
Diz Pic, o Pássaro, encolhendo os ombros.


A rima é como uma flecha,
Que temor, que tremor,
Ao penetrar no coração,
Lagarto a contorcer-se!
Morrereis assim, pobres diabos,
Ou ficareis embriagados,
«Sim, senhor, você é poeta»,
Diz Pic, o Pássaro, encolhendo os ombros.


Versículos informes que se atropelam,
Pequenas palavras loucas, que efervescência
Até que, linha a linha,
Pendeis todas do meu tiquetaque.
Haverá espantalhos
A quem isso diverte? Os poetas serão impiedosos?
«Sim, senhor, você é poeta»,
Diz, Pic, o Pássaro, encolhendo os ombros.


Troças, Pássaro? Apetece-te rir?
O meu cérebro já tão doente,
Estará o coração ainda pior?
Ah! receia, teme o meu rancor.
Mesmo no íntimo da cólera,
O poeta rima a direito.
«Sim, senhor, você é poeta»,
Diz Pic, o Pássaro, encolhendo os ombros.


Friedrich Nietzsche, in "A Gaia Ciência"