domingo, julho 13, 2014

ESCREVER ME FASCINA...

Em cada verso me realizo. Sinto-me feliz em escrever. A escrita me liberta. As palavras me dão asas. Permitem-me a liberdade de sonhar, expressar sentimentos, me realizar. Quando escrevo,  uma excitação me doma e  cada poema é um gozo. Na simplicidade dos meus versos contemplo as mais intimas emoções. Em cada momento ímpar uma suave inspiração. O amor e todos os sentimentos bons enchem de vida minha poesia. Às vezes sou rima e em outras, nem tanto...

Se estou feliz ou triste, escrevo. Escrever me dá prazer, me faz retratar melhor  o pulsar feliz do meu coração. A escrita  transcende as fronteiras da felicidade e  me permite narrar o êxtase com suas mais íntimas  explosões e peculiaridades. A escrita  também  acalma é paz e  minha única companheira nas horas de solidão.  Não sou poeta, mas rascunho versos. Brinco de fazer poesia. Escrever é uma arte. Arte de saber brincar com as palavras traduzindo versos em plena melancolia ou mesmo transcrever a mais pura e louca sensação de prazer e alegria.

A escrita, em minha vida, é uma mistura de boas sensações. Penso que a escrita  tem também um significado ou uma  necessidade para escritores, estudiosos e poetas. Por exemplo, para  José Saramago: "No fundo, todos temos necessidade de dizer quem somos e o que é que estamos a fazer e a necessidade de deixar algo feito, porque esta vida não é eterna e deixar coisas feitas pode ser uma forma de eternidade."( José Saramago) .Concordo com o pensamento de Saramago, muito embora, apenas escreva como sentimento de desabafo, não para agregar meu nome a história mas escrevo como forma  de expressão dos pensamentos e sentimentos. Isso me basta.

 Penso que em muitos casos me identifico  um pouco com a poetisa  Clarice Lispector , que era um tanto louca, despojada e escrevia pelo simples prazer: "Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."  ( Clarice Lispector) Tenho, também, a convicção de que escrevo  apenas para libertar o que está preso.

 Enfim, escrever me dá paz. Gosto da simplicidade e da riqueza ao lidar com as palavras  que se juntam nas frases. Longe de ter a presunção de ser a melhor na escrita, afinal, o que escrevo é íntimo e faço pelo simples prazer de primeiro me realizar intimamente. O contentamento externo vem como brinde desse envolvimento. Portanto, certo ou errado. Guarde seus comentários e correções. Eles não me interessam.  Gosto de escrever. Escrever sobre a poesia que encontro nos olhos das pessoas, sobre o sorriso bonito no rosto de uma criança. Gosto de escrever a leveza e beleza das flores. Gosto de escrever sobre o arrepio da pele que o sexo causa, a extremidade do gozo... etc.  Gosto muito de escrever sobre minha alegria mais extasiante  e tristeza mais profunda. Não tenho ganâncias, nem  interesse de dominar ou ser a  dona do mundo, não. Tudo nessa vida é passageiro. Só os bons sentimentos são eternos. Mas o que fazer se até mesmo eles estão ali diante de meus olhos, enterrados no cemitério. E me são inspiração de cada instante, para que a cada dia eu seja melhor. Não quero a peso da ganância, da arrogância, da prepotência. Prefiro ser feliz com a leveza do riso e a rima alegre da minha rústica poesia. Prefiro a simples alegria de viver e encontrar inspiração nas pequenas coisas ao meu redor, sem  me deixar  perder da minha própria essência.

Se, neste momento, tivesse que explicar esse amor pela delícia da linguagem escrita diria apenas que gosto de escrever, simplesmente. Gosto de encontrar e sentir êxtase na simplicidade das palavras e frases. Quintana, um dos  grandes poetas já dizia: “Viver é acalentar sonhos e esperanças, fazendo da fé a nossa inspiração maior. É buscar nas pequenas coisas, um grande motivo para ser feliz!”  (Mário Quintana). Num último instante, empresto do  poeta  Ferreira Gullar  o poema - Traduzir-se,  um pouco do meu eu, nessa escrita que me consome, afinal de contas quando escrevo...
“Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.


Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.


Traduzir-se
 uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte”?
Escrever é uma arte. Arte que me fascina, então, que eu continue encontrando inspiração, na simplicidade da minha existência e, em especial, na serenidade gostosa dos seus olhos...



Socorro Carvalho