Que 2016 venha cheio de ternura e de
desejo, suspirando pelo prazer inútil da minha presença
Nestes dias amenos do ano que se
encerra, as previsões se multiplicam. Cientistas dizem o que devemos esperar do
aquecimento global. Economistas nos contam o que será dos mercados. Astrólogas
e mães de santo revelam, em detalhes obscenos, o que acontecerá em nossas vidas
privadas.
Diante dessa orgia de vaticínios, tenho
vontade de fazer como as crianças emburradas: tapar os ouvidos com as duas mãos
e cantarolar bem alto. Eu não estou interessado em ouvir sobre o futuro.
Definitivamente, não quero saber o que me aguarda. Será tão difícil perceber
que ignorância é uma benção?
Se uma pitonisa tivesse me contado, no
final de 2014, o que me esperava ao longo de 2015, eu teria petrificado, e de
nada adiantaria. As coisas ainda seriam como foram. Sem saber de nada, vivi um
dia depois do outro. Alguns deles foram macabros, mas muitos foram lindos. Me
lembro de um fim de tarde, olhando as luzes nas montanhas de Belo Horizonte, em
que senti que o meu corpo e os meus sentimentos, finalmente, estavam reunidos
no mesmo lugar, depois de muito tempo separados. Por não ter antecipado o
reencontro, eu me senti ainda mais feliz.
A vontade de prever é parte do desejo
humano de controlar e evitar, mas, francamente, deveríamos ser modestos. Não
temos comando sobre as coisas que realmente importam. Eu posso planejar
investimentos e programar o pagamento das contas, posso trabalhar dobrado para
fazer dinheiro ou evitar ser demitido, mas quem garante que serei poupado de
uma desilusão amorosa devastadora no ano que inicia? Ou de uma doença? Ou de
uma briga dolorosa em família? Humildemente, deveríamos admitir que nossos
poderes são limitados. A natureza, claramente, nos propõe uma troca: temos
liberdade para fazer o que quisermos, mas não podemos exigir garantias. É assim
que as coisas têm sido, e está bem.
A coisa mais bonita a respeito do futuro
é que ele não existe. Cada hora do ano que virá está por ser escrita. Podemos
avançar e inventar, descobrindo coisas, pessoas, situações. As novidades são
inesgotáveis. Embora carreguemos nossa mala de passados, ela não determina o
nosso futuro. O acaso intervém. Nossa vontade se impõe. Somos homens e mulheres
livres, embora muitas vezes nos sintamos prisioneiros. De quê? De quem? Essas
perguntas precisam ser feitas e respondidas. Talvez atrás delas existam
entraves menores do que imaginamos.
A impossibilidade de prever não
significa que não possamos desejar. Faz parte da nossa natureza se antecipar ao
futuro. Somos dados a sonhar, planejar, esperar. A nos desapontar, também.
Para os chineses, este ano que começa é
o do Macaco de Fogo. Um ano auspicioso, dizem. Se eu pudesse escolher, faria de
2016 o ano da Mulher Apaixonada. Não conheço nada mais bonito. As mulheres
apaixonadas nos dão tudo em troca de quase nada. São amorosas e sensuais. Elas
nos encantam com seus encantos e nos arrebatam com seu arrebatamento. Nos
surpreendem com o corpo, nos seduzem com a mente. Durante o dia são nossas
iguais. Quando cai a noite, são diferentes. No ano da Mulher Apaixonada todos
faríamos grandes descobertas emocionais, e seríamos felizes como cavalos
recém-nascidos.
Na falta de um ano como esse no
calendário ocidental, nos resta lidar com o insondável 2016. Ele começa com
previsões nefastas de especialistas, mas quem se importa? Essa gente se engana
o tempo todo. Vivem de anunciar o Apocalipse. A única certeza absoluta é que no
dia 1º de janeiro estaremos lá, com os olhos cheios de esperança, talvez de
lágrimas, buscando no horizonte razões para acreditar e continuar. Um dia
depois do outro. Uma surpresa depois da outra. Um amor depois do outro, se
tivermos sorte.
Ivan Martins
Revista Época
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